Cães selvagens de Chernobyl mostram diferenças genéticas após décadas de exposição à radiação

A explosão do reator nuclear em Chernobyl, em 26 de abril de 1986, afetou a vida humana na região para sempre. Atualmente, a Zona de Exclusão de Chernobyl (CEZ), que tem aproximadamente o tamanho do Parque Nacional de Yosemite, permanece desabitada, mas a fauna e a flora prosperaram em meio à ausência da humanidade. Especialmente, muitos cães selvagens foram encontrados na área, e cientistas estão analisando os genomas desses animais para entender melhor como a radiação pode ter afetado suas vidas e evolução. Um estudo recente examinou o DNA de 302 cães selvagens que vivem na CEZ ou ao redor dela, comparando-os com outros que vivem a 16 quilômetros de distância e encontrou diferenças genéticas distintas entre as duas populações. Embora o estudo não prove que a radiação é a causa dessas diferenças, é um primeiro passo importante para analisar as populações irradiadas e compreender como elas se comparam com cães que vivem em outros lugares.

Os cientistas envolvidos na pesquisa incluíram representantes da Universidade da Carolina do Sul e do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano. A ideia da radiação acelerando a evolução natural não é nova. Os cientistas já analisaram animais da CEZ, incluindo bactérias, roedores e pássaros. Um estudo de 2016 sobre as pererecas orientais (Hyla orientalis) descobriu que esses animais eram mais comumente pretos na CEZ do que verdes, como em outros lugares. Os biólogos acreditam que a melanina, o pigmento responsável pela cor da pele, passou por uma mutação benéfica que ajudou a ionizar a radiação circundante. Isso fez com que os cientistas questionassem se algo semelhante poderia estar acontecendo com os cães selvagens de Chernobyl.


Embora o estudo mostre diferenças genéticas distintas entre as populações de cães selvagens de Chernobyl e as de cães da cidade vizinha, não se pode afirmar com certeza que as diferenças se devem à radiação. De acordo com um cientista ambiental entrevistado pela Science News, identificar mutações induzidas por radiação entre outros efeitos, como endogamia, é incrivelmente difícil. No entanto, este estudo pode servir como modelo para investigações mais aprofundadas sobre os efeitos da radiação em mamíferos maiores. Comparar o DNA dos cães que vagam pela CEZ e nas proximidades da cidade de Chernobyl com cães de outras partes pode fornecer informações importantes sobre a influência da radiação nos seres vivos que vivem em áreas com níveis normais de radiação para avaliar possíveis diferenças genéticas.

Elaine Ostrander, co-autora do estudo, disse que o próximo passo é olhar para as mutações específicas presentes nos cães de Chernobyl para entender como elas podem estar relacionadas à adaptação à radiação. Ela explicou que os cães podem ter desenvolvido mutações em genes que ajudam a reparar o DNA danificado pela radiação ou em genes envolvidos na produção de células sanguíneas, que podem ter sido afetados pela radiação.

Ostrander também destacou a importância do estudo para a compreensão da biologia da radiação e sua relação com a evolução. Ela afirmou que a pesquisa sobre a adaptação dos cães selvagens de Chernobyl pode fornecer informações valiosas sobre como a vida pode se adaptar a ambientes extremos e estressantes, incluindo ambientes com altos níveis de radiação.

Além disso, o estudo pode ter implicações importantes para a conservação da biodiversidade em áreas contaminadas por radiação. Se os cientistas puderem entender melhor como os animais se adaptam à radiação, eles podem desenvolver estratégias para ajudar a proteger as espécies ameaçadas de extinção que vivem nessas áreas.

No entanto, é importante lembrar que a radiação ainda é uma força altamente destrutiva e perigosa para os seres humanos e outros animais. Embora os cães selvagens de Chernobyl possam ter desenvolvido maneiras de lidar com a exposição à radiação, a maioria dos seres vivos ainda sofre graves danos à saúde e ao DNA quando expostos a altos níveis de radiação.

Em última análise, a pesquisa sobre os cães selvagens de Chernobyl destaca a importância de entendermos melhor como a radiação afeta a vida na Terra e como podemos proteger a biodiversidade em áreas contaminadas por radiação. É um lembrete de que as consequências do desastre nuclear de Chernobyl ainda são sentidas hoje, quase quatro décadas depois, e que precisamos continuar aprendendo e avançando para minimizar o impacto da radiação em nossas comunidades e em nosso mundo natural.